Enquanto estava perdido em pensamentos Joel Ilitch adormeceu. E viu-se dentro de um sonho que há muito o atormentava. Envolvia a sua psicóloga Mariana Isabel do Rosário. Uma aparição que se repetia de tempos a tempos. Era apenas um sonho. Nada de grande monta. Um ligeiro risco no CD que não chegava para estragar a música. Porém a história é outra se os riscos se forem acumulando. Com o Homem é a mesma coisa. Os sonhos só podem ser ignorados até ao dia em que eles começam a falar. E desta vez a psicóloga tinha algo para dizer ao Joel adormecido.
“You must give up on beauty if you want to live.”
Normalmente a Mariana onírica ficava-se inexpressiva a olhar para ele. Mas agora tinha falado e fê-lo em inglês. Apesar deste anglicismo Joel deu pouca importância à mensagem. Ele só queria perguntar-lhe a razão que a levara a manter-se calada durante tanto tempo. Não o fez porque começou a ouvir um ruído que destoava do completo silêncio que costumava reinar no consultório. Pensou que se tratava de água a correr nos canos. Proveniente do andar de cima. Instintivamente olhou para o teto. Mas não. Não tinha sentido visto que aquele era o último andar do prédio. Olhou para o chão e viu que estava coberto de água que entrava por debaixo da porta. Os pés da psicóloga estavam encharcados pois ela encontrava-se descalça. Apenas de meias. Pretas. Já ele estava de galochas. Amarelas. Aprontou-se a descalçá-las para as oferecer à Mariana. Mas em vão. Nesse espaço de segundos ela tinha sumido. Joel encontrava-se sozinho no consultório que rapidamente se enchia de água. Já lhe chegava pelos joelhos. Tentou abrir a porta mas esta estava fechada. Estava preso. Se a água continuasse a subir morreria afogado. Tinha que encontrar uma maneira de sair dali. Ele precisava de uma chave.